Há 5 anos eu convivo com lesões.
Não me lembro como é me mover e não sentir dor.
Como um amante desde cedo do treinamento físico, sempre gostei da ideia de desconforto. Nunca achei que algum dia sentiria tanta raiva e tristeza disso.
Artrose no ombro, condropatia patelar, escoliose e para deixar as coisas ainda mais sensíveis: hipermobilidade, que facilita em muito novas lesões.
Lembro-me de inúmeras noites chorar até apagar por não ter nenhum momento do dia em que sentia alívio. Sempre doía. Sempre.
Tá bom… talvez você se pergunte:
“Mas se é tão ruim assim, por que você está falando que eu deveria sofrer mais?”
Porque eu levei 5 anos para perceber que o sofrimento com as minhas lesões foi a melhor coisa que aconteceu comigo.
O ÚNICO CAMINHO PARA A LIBERDADE.
Esse é um Pai na Faixa de Gaza, tentando manter o mínimo de dignidade para os seus filhos durante os conflitos entre Israel e o Hamas.
Apesar da tragédia da guerra, eles ainda encontram alegria. Os sorrisos das crianças sempre me pegam.
Comparar nossas vidas com pessoas nessas situações nos faz pensar em como somos ingratos e deveríamos agradecer mais pela nossa vida.
É um exercício muito bom que todos deveriam fazer! Mas, há um problema nisso:
Quando você fecha o post que evocou toda essa gratidão em você e o primeiro problema da sua vida aparece, você esquece tudo que viu.
Porque as coisas que acontecem com uma pessoa do outro lado do planeta não conseguem gerar em você mudanças reais como as que acontecem debaixo do seu nariz.
Você só realmente aprende quando experimenta.
UM POR 3, DOIS POR 5.
Eu experimentei isso quando precisei vender brigadeiro na rua para pagar o tratamento das lesões.
Para isso, precisava ficar em pé cerca de 5 horas por dia, contando o tempo de cozinhar e o de vender.
Com esse desgaste, as lesões pioravam à medida que eu vendia. Eu ganhava dinheiro para tratar e piorava elas no processo.
Ora, ora, que dualidade.
Chegou um momento que precisei parar de vender e o tratamento foi interrompido.
Anos depois, escutei que para tratar lesões você precisa continuar treinando. Mas, como treinar para tratá-las se quando treino elas pioram?
A mesma dualidade de antes.
Segui o conselho mesmo assim. Resultado: nos últimos dois dias, tenho acordado de madrugada pois, ao estender o joelho, a dor na patela me acorda.
Lá vou eu parar de novo, recuperar, repensar a metodologia do treino e voltar.
Alguém que adotou o treinamento e “ser forte” como parte da própria identidade, agora se vê limitado pela mesma coisa.
De novo a dualidade.
Lidar com esse problema me ensinou lições valiosas que nenhum exercício de reflexão com tragédias do outro lado do planeta ensinariam:
Lição #01: Há um propósito para cada coisa que acontece na sua vida.
Só Deus sabe quais situações no futuro me acontecerão, ou acontecerão com alguém que eu amo, que se farão necessários os ensinamentos dessa fase da minha vida.
Tudo que me resta é abaixar a cabeça, agradecer e pedir sabedoria para entender a mensagem.
Lição #02: Só aprendemos quando é com a gente.
Para coisas maiores, como uso de drogas, apostas, escolher a pessoa errada para casar… essas coisas conseguimos aprender com o erro dos outros.
Mas, só aprendemos a reclamar menos e agradecer mais quando acontecimentos das nossas vidas nos levam a essa conclusão.
Lição #03: Há mais benção que maldição na sua vida.
Família destruída, dívidas, crimes, acidentes, tragédias, não importa qual mazela caiu sobre a sua cabeça: sempre há mais benção do que maldição.
Um olhar treinado e fé na imortalidade da alma são suficientes para te fazer perceber que o fato de você estar vivo, respirar e poder amar é um milagre.
Lição #04: O sofrimento é necessário.
Nada de grande pode ser construído sem sacrifício. Sacrifício vem do Latim “Sacrificium”, que em uma tradução literal significa "tornar um ato sagrado".
Todo sacrifício subentende um sofrimento. Dói sacrificar. Mas é isso que eleva sua ação ao status de sagrado. O sofrimento é necessário e bom. Logo, você precisa sofrer mais.
Desconheço um caminho que proporcione qualquer tipo de liberdade que antes não tenha sofrimento e sacrifício.
Lição #05: Você está no momento que pediu.
Essa parte do Sermão do Monte ilustra bem essa lição:
43. Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo.
44. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem;
45. para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuva sobre justos e injustos.
46. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo?
47. E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?
48. Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.
Que recompensa você teria em fazer o que deve ser feito somente em dias fáceis?
Aquilo que é difícil (como no Sermão, amar o seu inimigo) deve ser feito no dia mais difícil. Isso é de fato o sacrifício.
Quando você pede para ser uma pessoa mais forte e, frente às dificuldades, age com fraqueza, fugindo de suas responsabilidades, você mostra não estar buscando força de fato, pois é nesse exato momento que ela deveria ser desenvolvida.
Esse é o momento que você pediu para desenvolver as coisas que você quer!
Então, faça valer a pena.
No sofrimento, também é necessário estar em silêncio. Ter espaço mental para pensar com qualidade e perceber os milagres em meio ao caos.
Por isso, recomendo que leia a última News:
Você Não é Infeliz, Você Só Faz Muito Barulho | #04
Ontem, dia 28/03, foi mais um dia exaustivo de trabalho.
Até a próxima carta.
Vitor Glória.
Verdade, muitas vezes só aprendendo vivendo a experiência.
Falo isso por ser pai, antes falei muito sobre pontos de vistas com pessoas que eram pais, mas hoje percebo que cada pessoa tem um ponto de vista, uma visão, uma criação que tem mais haver com as experiências que pessoa viveu e não pelo que realmente é bom para criança.